Por Tania Correia Mendonça
As doenças mentais se configuram como um assunto muito dificil de ser abordado e vivenciado, é indiscutível que o paciente psiquiatrico sofre absurdamente, nem de longe podendo ser plenamente compreendido pelos familiares e amigos.
As doenças mentais se configuram como um assunto muito dificil de ser abordado e vivenciado, é indiscutível que o paciente psiquiatrico sofre absurdamente, nem de longe podendo ser plenamente compreendido pelos familiares e amigos.
Existem
inúmeros preconceitos e significacões relacionadas ao assunto que
possibilitam comportamentos de mais diversos tipos, na minha formação
como psicóloga, em um estágio conheci uma senhora que tinha um
delírio em que ela falava e ela mesmo respondia:
- Dr. Leocádio ?
- Sim, minha noiva.
- Dr. Leocádio ?
- Você está aqui ?
- Sim, minha noiva.
Esse
diálogo-monólogo se estendia pelo dia todo, intrigada perguntei aos
enfermeiros, eles me contaram que ela era apaixonada e noiva de um
rapaz, mas por proibição dos pais dela, eles não se casaram, o
rapaz era pobre e ela muito rica. Ela não se casou com ninguém e na
velhice essa vivência era retomada no delírio, o interessante é
que ela fazia duas vozes, a dela e a dele.
Para
a Fenomelogia, a doença mental tem um significado particular para
cada pessoa, por mais que os sintomas sejam os mesmo podendo ser
reconhecido pelo psiquiatra.
A
visão da Fenomelogia me tras a reflexão que as pessoas podem ter a
mesma doença psiquiátrica mas, cada um adoece pelos seus motivos
relacionados a sua história de vida, dentre outras razões. O
adoecimento não surge do dia para a noite, dando sinais muitas vezes
ignorados pela pessoa, mostrando que algo não está indo bem.
Muitas
vezes a significação pode ser descoberta com a terapia, com o
processo colaborativo entre paciente e psicólogo. É essencial uma
atitude de acolhimento e compreensão, permitindo confiança e
lançando luz sobre a própria vida, permitindo se aproximar e cuidar
do que tem necessidade.
É
dificil falar em cura, já pensando no próprio significado da
palavra cura, porém podemos vislumbrar melhoras significativas com a
combinação de remédios e terapia.
Mesmo
não sendo psiquiatra posso comentar que existe um debate sobre a
origem das doenças mentais, alguns acreditam que a origem é
biológica, fisíca ou neuronal, outros acreditam que é vivencial,
ligada a história de vida e ao comportamento da pessoa. Hoje temos
um consenso que o tratamento é com medicamentos e terapia.
Existem
algumas doenças mentais que com o uso do remédio já melhoram
muito, outras que só com a combinação entre remédios e terapia se
tem sucesso. Como não sou psiquiatra não quero e não tenho
condições de discorrer sobre essas especificidades.
Vou
abordar algumas visões preconceituosas que já ouvi no decorrer da
minha experiência como pessoa e como psicóloga :
- Que absurdo, você vai amarrar e dar remédios para uma pessoa que está saindo pelada na rua??? Você é muito desnaturado!!!Qual seria a opção ? Deixar a pessoa sair correndo e sumir ou deixar ela se machucar, se matar ou matar alguém? Em algumas situações é necessário que o paciente seja internado, contido e medicado, em muitas doenças psiquiátricas a atitude do paciente é perigosa paraa sua vida ou de outras pessoas.
- Como você está com depressão sendo que tem tudo ! Que tem uma ótima vida.A depressão é uma condição clinica que não está associada aos bens materias diretamente, pode até ter em alguns casos em que tenha relação e significado na história de vida do paciente. A depressão é a perda do sentido pessoal da vida, é um entristecimento absurdo, as atividades que eram prazeirosas passam a ser insípidas. Se pensarmos no exemplo até o tudo que se tenha não tem graça nenhuma. Um mergulho dentro de si mesmo se faz urgente e muito salutar, a terapia pode ajudar na busca de sentido e os remédios na estabilização do paciente para conseguir ter energia e começar a se cuidar.
- Ele não está louco, pois no momento do surto da loucura estava se divertindo!É compreensível que a pessoa pense assim, pórem será que uma pessoa que estava rindo ao ficar pelada na rua, ao pessear pelada na frente da tia de 85 anos e tentou enforcar o primo e não falar nada com nada está feliz???A loucura é muito solitária, ninguém compartilha a vivência do louco com ele e isso é muito triste, estar em um mundo de significados completamente sozinho. Como pode estar rindo ? Está rindo porque perdeu a censura, está rindo por que perdeu a razão, está rindo porque vive o que ninguém pode compartilhar, rí porque esta livre e a deriva. A seguir falarei mais da censura.
- A pessoa não está louca, isso foi contra mim de propósito, falou cada coisa!!!Em geral, quando a pessoa está vivenciado um surto não vai escolher com quem ou em que situação vai surtar, podem existir pessoas ou situações que potencializam o surto. Com relação a censura é interessante observar que as pessoas pensem antes de falar ou não falem tudo que pensam para todos, porém no surto a fala sem filtro é muito comum, dizer exatamente o que pensa sem lapidar e sem censura.Você iria a um casamento e ao ver a noiva com uma maquiagem feia e carregada, com 9 meses de gestação com um vestido justo e curto, você diaria que ela está ridícula ou desejaria felicidades agradecendo o convite?
- Ela não está doente !!! Ela está fingindo, conversei com a minha amiga x que é formada na faculdade z e ela deu certeza que a pessoa não tem nada.É muito comum ouvir declarações desse tipo, são absurdas! A minha primeira pergunta seria : quando foi que a sua amiga examinou a pessoa doente? Quais informações ela tinha pra fazer o diagnóstico? Ah, a pessoa não conhece a pessoa adoecida? E como ela fez o diagnóstico? É muito comum ver leigos dando informações categóricas e prejudiciais.Quando se tratam de doenças mentais é bom ficarmos atentos a mudanças em que a pessoa se comporta de maneira dieferente ao que fazia, é importate o ponto de referência para a comparação seja ela mesma. É essencial encontrar um psiquiatra competente e humano, que se aproxime do paciente e não só da doença, que auxilie no processo de busca de respostas, conversando, perguntando e interagindo.A terapia é um espaço de cuidado, de acolhimento e busca, é possivel tentar compreender como significamos a nossa vida e como entramos na inflexibilidade de uma depressão ou como começamos a adoecer, vivenciando enorme sofrimento. Com esse processo a busca da cura se torna secundária, uma vez que a importância está no caminho da descoberta, quando lançamos luz sobre o que parece inacessível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário