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1.3.17

Sofro para não desagradar ...



Por Tania Mendonça e Tania Miranda

As relações humanas estão presentes em todos os ambientes da nossa vida, nos relacionamos com pessoas que tem diferentes tipos de comportamentos e atitudes. Encontramos pessoas tidas como calmas e sensatas, já outras são consideradas explosivas e intolerantes, claro que entre esses dois extremados tipos existem várias possibilidades e maneiras de agir no mundo.
Nossa vida é um celeiro fantástico de reflexões e observações que temos a disposição pelo simples fato de estarmos vivos, também podemos contar com um recurso espetacular que é a terapia. A busca pelo autoconhecimento não é simples clichê, é uma oportunidade real de crescimento, de transformação e de diminuição do sofrimento tão próximo da nossa existência.

Nossa reflexão passa justamente pelo sofrimento humano, há alguns dias uma pessoa que tem posição profissional de destaque nos contou que estava triste e deprimida por ir trabalhar, estranhamos, pois ela ama seu ofício, o motivo da tristeza era uma funcionária desagradável, que não obedecia as suas orientações.
O espanto foi enorme, já que essa funcionária poderia ser demitida por ela, quando questionada sobre o motivo de não demitir ou falar alguma coisa, a resposta foi que não queria entrar em conflito ou desagradar. Essa pessoa é conhecida como calma, gentil, sensata e tranquila, porém estava deprimida para evitar um conflito.
Socialmente é mais valorizado o indivíduo que resolve os seus problemas e conflitos conversando, sem gritar ou explodir e as pessoas que gritam e se expressam explosivamente não são vista com bons olhos, o objetivo aqui não é refletir como a sociedade vê a repercussão de nossas ações, mas é pensar o que influencia a pessoa a adoecer ao invés de expor o que sente.
Não é novidade que o corpo manifesta o que sentimos, quando não é possível lidar e refletir sobre nossos sentimentos. Segundo Ramos (1994), a doença surge a partir desse desequilíbrio entre o consciente e o inconsciente, quando não conseguimos transformar as emoções que vivenciamos em nosso cotidiano em representações psíquicas (ideias, lembranças, pensamentos, desejos), passamos à expressa-las no corpo. Como exemplo disso podemos citar a Depressão e doenças autoimunes (onde os anticorpos, responsáveis pela defesa do corpo, atacam o próprio corpo) como o Lúpus e a Artrite Reumatoide.
É claro que ninguém escolhe racionalmente sofrer ou adoecer, porém nem todas as escolhas acontecem de maneira racional e consciente. Jung (1991) nos diz que em nosso inconsciente existem todas as possibilidades, mas muitas vezes ficamos presos às mesmas atitudes e pensamentos, sem conseguir elaborar e gerar novas ideias e ações.
Na nossa formação como pessoa nós passamos por influências familiares, sociais, culturais, religiosas e do convívio com os amigos que moldam a forma como encaramos e vida e as crenças que temos. Para algumas culturas as mulheres andam cobertas, em nossa cultura podemos usar biquínis e frequentar a praia, a questão não é julgar quem está certo ou errado, mas compreender como cada pessoa entende e lida com essa construção social e o quanto pode sofrer ou ter prazer por ter que cumprir os papéis sociais.
Na visão da psicologia analítica, essa adaptação social é feita através da persona, ou seja, das máscaras que utilizamos para nos adaptar a cada situação social. Mas nós não somos apenas máscaras, somos muito mais, porém por vezes agimos como se fossemos, deixando para trás nossa verdadeira essência, presos ao medo de não sermos aceitos, amamos e respeitados por todos em todos os momentos.
Voltando a nosso exemplo, podemos perguntar:

Porque a pessoa não encontra recursos para enfrentar a situação, expor a sua opinião e mudar uma configuração que não a agrada? Porque essa pessoa adoece de depressão para não se indispor ou vivenciar um conflito? Porque deixar a já conhecida persona de pessoa calma e equilibrada e tão difícil? Quais os ganhos? Quais os medos?
Um processo terapêutico cuidadoso pode compreender as motivações e buscar recursos para transformar o sofrimento emocional, buscando ampliar a visão de mundo, questionar as exigências sociais enfrentadas e repensar sobre o trivial, pois são nos detalhes repetitivos da nossa existência que estão as respostas que tanto buscamos.
Um bom psicólogo fará perguntas que permitam olhar o conhecido como novo, é um trabalho conjunto e colaborativo de montar um quebra cabeça. A pessoa que contamos encontrou uma saída para o conflito, mudou de emprego e recuperou o prazer e a felicidade em trabalhar, porém outros conflitos e desafios virão, como a pessoa calma e sentada poderá resolver sem fazer sofrer a si mesma?

Bibliografia
RAMOS, D. G. A. A psique do corpo. São Paulo: Summus, 1994.
JUNG, C.G. Tipos psicológicos. O. C. v. 6. Rio de Janeiro: Vozes, 1991.




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