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21.7.16

A Menininha dos Fósforos


Por Tania Miranda

Os contos de fadas fazem parte de nossas vidas, de nossas lembranças, e na maioria das vezes são escritos e lidos para encantar e divertir as crianças. Mas por meio deles também conseguimos observar as mais variadas manifestações do inconsciente,  cada conto nos mostrando possibilidades de compreensão e desenvolvimento de nossos potenciais.

Nos processos de psicoterapia utilizamos as imagens dos contos para representar situações reais,  com as quais as pessoas podem se identificar, refletir e encontrar novas soluções.

O conto " A menininha dos fósforos", nos traz a historia de uma menina que não tinha nem pai, nem mãe, e morava na floresta negra. Ela perambulava pelas ruas frias sem sapatos, apenas com o fino casaco que possuía. Era vendedora de fósforos, e naquela noite implorava a desconhecidos que os comprassem. Mas ninguém comprava ou reparava nela. 

Cansada e com frio, resolveu se sentar na neve e usar os fósforos para se aquecer. Ascendeu o primeiro e o frio pareceu desaparecer. Se viu diante de um fogão maravilhoso,  ela se sentou junto a ele e se sentiu no paraíso. Mas logo a chama se apagou e ela estava mais uma vez na neve. Ascendeu o segundo e um delicioso ganso assado veio em sua direção, mas tudo desapareceu quando a luz do fósforo se apagou.   Acendeu o terceiro fósforo e viu uma linda árvore de Natal cheia de velas, que foram subindo para virar estrelas no céu. Uma delas, transformou-se em estrela cadente, e ela se lembrou de sua mãe ter lhe dito que quando morre uma alma, uma estrela cai.

E do nada surgiu a avó que ela tanto amava, e que delicadamente a tomou nos braços e a envolveu com seu avental. Mas a avó também começou a desaparecer e a menina passou a acender cada vez mais fósforos para mantê-la consigo, até que elas começaram a subir juntas para o céu, onde não havia frio ou fome.  E pela manhã, entre as casas,  encontraram a menina imóvel e morta. 

Esse conto nos mostra a distância que podemos estar de nós mesmos, presos a um frio de carinho. Quantas vezes cada um de nós nos sentimos assim, abandonados , acendendo fósforos para conseguir atenção e afeto, vendo nossas forças se perderem em meio às fantasias de grandes amores e  grandes conquistas sem real sentido, morrendo um pouquinho a cada vez que voltamos à realidade. Essas fantasias nos paralisam, nos impedem de agir, sempre com a sensação de que nada mais pode ser feito.

Como nos vícios, nos vemos em busca do curto, mas imediato prazer, que nos leva ao consumo sem limites, á relações sexuais sem sentido verdadeiro, ao abuso de substâncias químicas, enfim, a acender fósforos e os ver apagar.

O símbolo do fogo nos remete à vida, à paixão, ao conhecimento intuitivo e os fósforos na história são pequenas chamas que carregamos conosco,  são nossos sonhos, nossos potenciais e nossa criatividade.

Somente quando estamos próximos de quem realmente somos e sabemos com clareza o que desejamos, podemos agir, passar a acender fogueiras e a alimenta-las com nossa criatividade e intuição.

Na história a menina vê em sua fantasia a estrela cadente, que acredita ser o aviso de uma morte. Mas a estrela cadente também simboliza iluminação, sorte, e nas culturas mais antigas, um presente dos deuses que veio do céu.  

Nosso presente é a capacidade da psique humana de renascer, de poder reconstruir-se. Antecedendo a morte da menina, surge um raio de luz, a esperança de poder retornar à vida quando conseguimos nos aproximar de quem somos.  Mas vale lembrar que esse retorno pode ser bastante longo e doloroso, por isso é melhor que estejamos atentos a nós mesmos e a nossos reais desejos.

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