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2.8.16

Será que ele me ama ?

Por Tania Mendonça




Há algum tempo uma amiga durante um papo descontraido me perguntou : você acha que meu marido me ama? Eu respondi perguntando: o que significava o amor para ela, sua resposta foi que amar é gostar, querer estar junto. A definição do dicionário é forte afeição por outra pessoa, nascida de consanguinidade ou de relações sociais, também é definido como atração baseada no desejo sexual.
Continuei perguntando: você sabe o que significa o amor para o seu marido? Você já pensou que o amor e o casamento têm significados, expectativas e realizações diferentes para cada pessoa? Ela me disse que nunca tinha pensado nisso. De fato o amor não segue receitas, o que dá certo para determinado casal é um pesadelo para outros. Meu marido trabalha em casa e nos vemos bastante durante o dia, uma amiga disse que se convivesse tanto assim já estaria separada, que conviver poucas horas por dia é suficiente, mais seria insuportável.
Muitas vezes esquecemos de perguntar para o outro o que ele deseja e acha importante e da mesma forma achamos ou queremos que o nosso parceiro tenha uma bola de cristal e deva adivinhar o que queremos. Não, não, não! Isso não é possível ! Se para duas pessoas a mesma palavra tem significados diferentes, imagina atitudes, manifestações de carinho e amor ou a ausência delas. É preciso perguntar, esclarecer, conversar e expor o que pensa e deseja.
Continuei perguntando para minha amiga: você já pensou que a educação familiar que ele teve construiu a forma como ele vê o amor e se relaciona? Que a constituição familiar difere pelo período histórico e influências sociais? Ela me olhou com uma cara abismada, para não dizer totalmente espantada. Expliquei para ela que a nossa família e depois os amigos formam o nosso repertório comportamental, o que é valorizado em determinada família pode não ser valorizado em outra. São os pais ou cuidadores que nomeiam para a criança os sentimentos e definem as suas consequências, por exemplo: Fulano, você está apaixonado! Que idiota é você??? Só os fracos demonstram sentimentos.
Como será uma pessoa se relacionando tendo esse tipo de educação? Ou então: Fulana, você está sentindo raiva, esse sentimento não é bonito, você não pode sentir isso!!! A forma como as pessoas nomeiam os sentimentos e a forma de lidar com eles surge de uma série de crenças e julgamentos de valor, que interferem muito nos relacionamentos. Tenho uma amiga muito querida que ama dar presentes, mas o que ela mais gosta é de embrulhar com papéis bonitos e fitas coloridas. Ela fala que isso representa cuidado e afeição. Imaginem a frustração dela quando ganhou um presente do namorado sem embrulhar, ela ficou péssima e se perguntou se ele tinha amor ou algum afeto por ela. Hoje ele que é marido, dá presentes bem embalados, mas ela precisou falar o que era importante para ela.
Na nossa conversa que foi muito agradável, refletimos como acontece o relacionamento dos dois, ela falou sobre a educação que ele teve, como a mãe não era carinhosa, não tendo muito diálogo. Conseguimos observar como ele se comporta e quais atitudes poderiam significar e representar que ele a ama, como levá-la no trabalho todos os dias, ajudá-la em algumas tarefas domésticas. Sobre os defeitos nem precisamos rememorar, afinal a dúvida do começo do nosso papo e do presente texto se justifica.
Com o desenrolar da conversa, ela me disse que amor para ela significava cumplicidade, ser carinhoso, atencioso, conversar, ajudar nas tarefas domésticas, ter um objetivo de vida em comum, que amor não podia ser definidado somente por um atributo, mas um conjunto de atitudes e que cada parceiro pode fazer diferente para mudar a relação sem ficar esperando a atitude do outro. Depois de bastante refletirmos, eu disse que acredito que o marido a ama, porém da forma como ele construiu e aprendeu ser o amor, a questão que ficava é se para ela é suficiente o amor que ele tem a oferecer, ela ficou pensativa.
Quando comecei a escrever o blog, ela me sugeriu escrever sobre a nossa conversa, ela me contou que passou a ver o marido de uma maneira mais compreensiva, que começou tentar a olhar as atitudes dele sem o julgamento da visão dela de estar certa ou errada. A sua mudança de observação sobre o relacionamento familiar dele confirmou que ele tem atitudes parecidas com a mãe e com as irmãs. Percebeu que mesmo amando o marido, se não existirem as atitudes que ela acha importante, pode haver uma separação.
Homens e mulheres são muito diferentes, cada pessoa na sua formação como indivíduo tem influências familiares, sociais, culturais e afetivas diversas. Sempre brinco com o meu marido que não entendo como casamento dá certo, ele dá risada. Sou casada há 10 anos e amo-o mais hoje do que quando casei, creio que para nós o que fez dar certo é respeito, diálogo, amizade e muita paciência.
Sempre me lembro das palavras de uma professora do curso de Psicologia que fez todo sentido para mim por se parecer com a forma como significo o amor: " o namorado dela disse que amava e pensava muito nela, ela respondeu : eu não me relaciono com o que você sente, eu me relaciono com o que você faz."

Aplausos para ela!

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