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12.7.16

Como nossos pais ???


Por Tania Mendonça

O relacionamento entre pais e filhos se modifica no decorrer da vida de ambos os lados, tendo também diferenças a partir da cultura que a família está inserida e pela religião que acreditam. Claro que as diferenças individuais devem ser considerada nesse relacionamento e como o pai e mãe vivenciaram a própria infância e o papel de filho ou filha.
Pensando de maneira utópica os pais deveriam ter o papel de protetores e cuidadores, zelando pelos bem estar integral da criança, isso significa que não basta fornecer uma casa, comida e roupas (itens que alguns pais não oferecem), é necessário cuidar de maneira amorosa, fornecer uma boa escola, acompanhar o desenvolvimento para evitar surpresas desagradáveis com más companhias e estar disposto a responder perguntas sobre muitos assuntos!
Não podemos esquecer que educação financeira, religiosa e sexual devem estar presentes. A sensação que tenho escrevendo sobre isso como mãe é de estar cumprindo uma lista de afazeres e como filha é pensar que não dei tanto trabalho assim. Será? Hoje como mãe tenho absoluta certeza (tenha essa certeza sobre poucas coisas) que educamos muito mais pelo exemplo do que pelas palavras.
A criança é capaz de perceber quando você fala algo que não faz, ainda mais se pedir pra ela fazer, o pai ou mãe diz: "coma brócolis porque é uma delícia" e no prato dos pais não tem nenhum legume. Não bata no seu irmão! O pai diz isso dando um tapa na criança. Educar é uma tarefa árdua e interminável, educar solicita empenho, esforço e muita paciência.
Como mãe posso afirmar que educar demanda renûncia, paciência, muito amor e dedicação, não esquecendo que é saudável educarmos com limites e regras desde pequenos, pois as crianças precisam de parâmetros para se guiar, quando não existem regras claras e limites as crianças sentem-se perdidas e sem orientação. Provavelmente vão dar mais trabalho.
Respeitar os próprios limites como mãe também é bastante saudável, afinal enfrentar a tarefa exaustiva de educar e cuidar sem reconhecer que somos humanos não trará benefícios pra ninguém, pois a sanidade mental e física da mãe ficará comprometida e como poderá se doar se não está bem?
Vale ressaltar que esses princípios podem orientar os pais, porém não é possível esquecer que a principal atividade de uma criança deve ser brincar e aprender a partir das experiências vividas, brincar significa experimentar, testar hipóteses e criar. Descobrir a grande novidade que é o mundo e seus infinitos detalhes. Conforme a criança vai crescendo, os pais aos poucos devem permitir que a criança se distancie deles e desenvolva a sua autonomia.
A criança tem os pais ou cuidadores como exemplo, em geral existe grande admiração por eles. Como professora aprendi que só podemos prometer a uma criança quando podemos cumprir, se você promete algo que deixa de ser possível cumprir, uma explicação é o ideal. Quando a promessa não é cumprida ou os pais mentem, a confiança da criança diminui, muitas vezes até acabar, sendo uma decepção grande para a criança e modifica a relação, podendo prejudica-la.
Como psicóloga acredito que as crianças necessitam de cuidados amorosos para conseguir se desenvolver e explorar o mundo com segurança, os limites e regras são essenciais, pois as crianças necessitam de parâmetros para se organizarem e sentirem-se tranquilas. Quando uma criança inicia na escola experimenta a angustia de esperar pelos pais, em geral quanto menor a criança, a adaptação é mais fácil, quando a professora descreve a rotina e fala que depois de determinadas atividades ela irá embora, é possivel ficar mais calma. 
Um livro muito divertido e interessante que descreve como é a educação na França, no ponto de vista de uma jornalista americana, onde a educação acontece de outra maneira. A questão do limite é também comentada de uma forma que apreciei bastante. O livro é   "Crianças Francesas não fazem manha" Pamela Druckerman.
Assim os filhos vão crescendo, se tornam adultos e começam a perceber o quanto são parecidos com os pais, o quando deles estão presentes na fisionomia, no jeito e gestos e até mesmo nas crenças e valores. Provavelmente os filhos terão filhos e quando estão criando-os terão uma oportunidade impar que a vida dá, que é trocar de papel com os pais que cuidaram dos filhos e cuidar deles na velhice.
Quando escrevi esse texto me lembrei dessa música, creio que seja possível refletir sobre a relação entre pais e filhos, vale a pena ouvi-la.





Como nossos pais
Elis Regina



Não quero lhe falar meu grande amor 
De coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi 
E tudo o que aconteceu comigo 
Viver é melhor que sonhar 
E eu sei que o amor é uma coisa boa 
Mas também sei 
Que qualquer canto é menor do que a vida 
De qualquer pessoa

Por isso cuidado meu bem 
Há perigo na esquina 
Eles venceram e o sinal 
Está fechado pra nós 
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão 
E beijar sua menina, na rua 
É que se fez o seu braço, 
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta pela minha paixão 
Digo que estou encantada como uma nova invenção 
Eu vou ficar nesta cidade não vou voltar pro sertão 
Pois vejo vir vindo no vento cheiro de nova estação 
Eu sinto tudo na ferida viva do meu coração...

Já faz tempo eu vi você na rua 
Cabelo ao vento, gente jovem reunida 
Na parede da memória esta lembrança 
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber 
Que apesar de termos feito tudo o que fizemos 
Ainda somos os mesmos e vivemos 
Ainda somos os mesmos e vivemos 
Como os nossos pais...

Nossos ídolos ainda são os mesmos 
E as aparências não enganam não 
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém 
Você pode até dizer que eu tô por fora 
Ou então que eu tô inventando...

Mas é você que ama o passado e que não vê 
É você que ama o passado e que não vê 
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei que quem me deu a ideia
De uma nova consciência e juventude 
Tá em casa, guardado por Deus 
Contando vil metal...

Minha dor é perceber que apesar de termos 
Feito tudo, tudo, tudo, tudo o que fizemos 
Nós ainda somos os mesmos e vivemos 
Ainda somos os mesmos e vivemos 
Ainda somos os mesmos e vivemos 
Como os nossos pais...

2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto! Ainda não sou mãe, mas como filha sei que exemplo vivido é exemplo aprendido. Belo trabalho!

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