Por Tania Miranda
De uma forma ou de outra todos
nós já vivenciamos o processo de luto, seja
com a morte de alguém querido, ou acompanhando a perda de um amigo ou
mesmo um paciente. E tão difícil quanto viver ou acompanhar o luto , é falar
sobre ele.
Com o crescimento dos meus filhos
me aproximei das questões que as crianças tem com a morte e me questionei
quanto à melhor maneira de abordar o tema. Mas outro dia, assisti com os
pequenos a animação " Festa no
Céu" ( o titulo original é The Book of
Life ) e tivemos uma ótima oportunidade de conversar sobre esse assunto, o que
me fez refletir sobre uma nova possibilidade de pensar o tema com adultos e
crianças.
Festa no Céu narra a mais importante história do "Livro da
Vida", que é baseada nas tradições mexicanas e envolve três mundos, a
Terra dos Vivos, a Terra dos Lembrados e a Terra dos Esquecidos. A Terra dos
Lembrados é governada pela deusa ancestral Catrina, La Muerte, e é um lugar alegre, onde ficam todos os mortos
que são lembrados e amados por suas famílias. A Terra dos Esquecidos é um lugar
triste onde ficam os mortos que não são mais lembrados na Terra dos Vivos, ela
é governada por Xibalba, que é ex-marido
de Catrina e um grande trapaceiro. O filme se desenrola contando sobre uma
aposta feita por La Muerte e Xibalba que vale o domínio da Terra dos Lembrados.
Em meio a muitas cores, figurinos exuberantes e um triangulo amoroso, o filme mostra a tradição mexicana do Dia dos Mortos, que muito diferente da tradição brasileira, é dia de festa, pois segundo a tradição popular, os mortos tem permissão para visitar o Mundo dos Vivos e sendo assim, são esperados com música, dança, fantasias, enfeites e muita comida.
É claro que o filme traz uma crença popular mexicana, diferente das nossas em muitos aspectos, mas a ideia de que o reino dos mortos pode ser alegre e festivo, e que enquanto a pessoa for lembrada no reino dos vivos, ela estará na Terra dos Lembrados junto a todos os outros mortos da família, me parece muito reconfortante e na verdade, muito saudável.
De maneira geral os autores que
tratam sobre o tema, dividem o luto em quatro fases, sendo choque, negação,
depressão e aceitação. É claro, que viver cada fase do luto é esperado e
natural, mas percebo que a ideia que o filme nos traz é uma ideia que pode nos aproximar da
aceitação, onde podemos e devemos lembrar de nossos mortos e isso fará bem a
todos.
Mesmo depois de passarmos pelas fases do luto, sentir saudades, lembrar e até mesmo chorar pelas pessoas
queridas que perdemos, faz parte de nossas vidas. Lembrando podemos trazer para nossa realidade todo o significado daquela pessoa e assim elaborar essa perda. Aceitamos nossas perdas, mas não nos
esquecemos delas, não precisamos esquecer.
Achei muito interessante pensar
nessa perspectiva, e entendo que o filme "Festa no Céu" seja uma boa
maneira de iniciar os difíceis diálogos sobre o tema, seja com as crianças, nos
processos terapêuticos ou com nós mesmos.
Ah, as ilustrações são da minha Lili...
Ah, as ilustrações são da minha Lili...
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